PROVAÇÃO
Ei você,
que passa por mim e não vê,
que olha pra mim com descaso
se estendo a mão pedindo
alguma esmola - uma sobra
daquilo
que estragas em casa.
Pára um pouco! Olha em volta!
Olha ao redor quantos somos:
um exército malfadado,
um exército maltrapilho,
que vai recrutando seus filhos
à medida
que a fome os aborda.
Não é minha culpa,
te digo,
de andar, assim, rasgado
deixando a vergonha de lado
a pedir pelo pão
que a ti sobra.
De quem é a culpa?
Eu não sei.
Mas sei ler, sei escrever...
Um dia estudei, sou letrado.
Agora, porém,
já nem sei o que sou.
Sem um bem, sem ninguém...
até Deus me abandonou.