LAMENTO Eu caminho sem descanso, e por mais que caminhe, não ando, pois a pedra em que, agora, tropeço já a vi, estava ali, na estrada, assim mesmo empoeirada, a espreitar-me em mudo espanto. Olho o céu, olho o chão, olho o espelho. Os meus pés são de sangue - vermelhos, esfolados de andar, tão doridos, neste longo caminho, perdido, procurando um amigo, quem sabe, que me acolha e se apiede, dividindo o pão comigo em comum fraternidade. A minh'alma revoltada impaciente proclama: "onde és Tu, que não me amas, que não Te recordas do pacto de zelar meu corpo fraco, e perpetuar nos Teus filhos Tua luz, insone brilho, que desce, cresce, se espalha, reunindo em mesmo prado a rebanho obediente, e a ovelha que tresmalha?" As badaladas são doze, doze horas se passaram, mas não mudou o cenário que persigo solitário, neste meu sonho medonho, neste infindável tormento, sem achar qualquer consolo, em constante sofrimento. Submissa minh'alma se dobra, e, calada, aceita esta prova. (nov-92) HLuna
Enviado por HLuna em 20/11/2016
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