FOLIA
São três dias, apenas três dias, em que o homem sacode dos ombros essa canga que tolhe seus sonhos, e o mantém acorrentado ao rebanho tacanho e mirrado, que rumina e regurgita, sem notar sua desdita, na sêca pastagem sem grama. São três dias, apenas três dias, em que o homem, esquecido da fome, não recorda, sequer, do seu nome e com o peito estuando de riso solta o corpo em alegre delírio, sem lembrar da tapera onde vive, ou da enxerga onde à noite ele ama. São três dias, apenas três dias, em que tapa os ouvidos ao medo da miséria que ronda em segredo, e se atira, aguerrido, arrojado, pés descalços no asfalto molhado, a camisa coberta de lama... São três dias, apenas três dias, de ilusória liberdade, não importa. Na verdade, são três dias... apenas três dias. (MAR-92) HLuna
Enviado por HLuna em 16/02/2015
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