DE VOLTA AO PASSADO
Quando morei em Realengo, época da adolescência, era assídua frequentadora da Igreja juntamente com minha prima, uns quatro anos mais velha. Não pensem, porém, estivesse eu atacade de algum fervor religioso ou pretendesse entrar para um convento. Que nada! Muito pelo contrário, essa minha assiduidade era tão somente pretexto para flertar com os rapazes, já que o meu xodó era católico praticante.
Não perdia uma missa no domingo, pois havia sempre aquela troca de olhares inflamados que me provocava um certo "frisson" . Da missa mesmo pouco aproveitava, mas era tão gostosa a sensação desse amor nascente... Por ocasião das procissões, quermesses e cineminhas estávamos ali, firmes e participativas. Que tempo bom! Cheio de delícias e de sonhos. sonhos que me davam asas para voar pelo mundo do imaginário, bem melhor que a realidade de todo dia.
Nesse tempo, tempo dos flertes, quando não sabíamos o nome do rapaz, nós lhes punhamos apelidos ou números. Assim, o Antonio (que veio a tornar-se meu noivo) era o número 3, porque tinha três irmãos números 1, 2 e 4. Fico, aqui, pensando... Sem qualquer razão plausível nos sentimos atraídos por uma determinada pessoa e seríamos capazes de tudo por ela. O Antonio foi a grande paixão da minha vida. Acabou quando comecei a trabalhar fora, nem sei bem por quê. Talvez porque minha visão do mundo começou a mudar e não me senti disposta a ficar presa tão cedo. Acredito que da parte dele a reciprocidade fosse igual, porque a amizade com minha prima permaneceu e ela diz que acha lindo esse amor que perdura pela vida afora. Será o caso de perguntar: o primeiro amor não se esquece? Pode ser.
Mas o que será que despertou em mim essas lembranças e levou-me a falar sobre isso? Nem sei... Deve ter sido a Semana Santa com toda a beleza da sua liturgia. Provávelmente, repetindo o ciclo, quanta troca de olhares aconteceram encobertos pelo véu do misticismo religioso. Tomara possam florescer e dar muitos frutos como manda o Evangelho.
abril-2007