Texto e haicais de Rodrigo Siqueira
http://www.insite.com.br/rodrigo/poet/haikai.html
O Haikai é uma pequena poesia com métrica e molde orientais, surgida no século XVI, muito difundida no Japão e vem se espalhando por todo o mundo durante este século. Possui uma longa história que retoma a filosofia espiritualista e o simbolismo Taoista dos místicos orientais e mestres Zen-budistas que expressam muito de seus pensamentos na forma de mitos, símbolos, paradoxos e imagens poéticas. Isto se deve à tentativa de transcender a limitação imposta pela linguagem usual e pensamento linear e científico que trata a natureza e o proprio ser humano como máquina. Na filosofia Zen, assim como no Haikai, é necessario ter introspeção e análise mais profunda fazendo-se perceber e descobrir curiosos e belos fatos naturais que de outra forma passariam despercebidos. O objetivo é capturar a essência do local numa poesia contemplativa e descritiva com grande valorização nos contrastes, na transformação e dinâmica, na cor, nas estações do ano, na união com a natureza, no que é momentâneo versus o que é eterno (ruptura do contínuo) e no elemento de surpresa.
É uma forma extremamente concisa de poesia que "gira" em torno de uma série bem definida de regras, mas nem sempre obedece sua forma original, podendo ser adaptada para diversas circunstâncias. Assim, existem poemas baseados em apenas algumas das características do Haikai:
- Poesia de três linhas e 17 sílabas normalmente distribuídas na forma 5, 7 e 5 sílabas respectivamente em cada linha.
- Assim como o "click" de uma máquina fotográfica, deve registrar ou indicar um momento, sensação, impressão ou drama de um fato específico da natureza. É aproximadamente a imagem de um "flash" ou resultado de um "insight" (=visualização/iluminação), cercado de pureza, simplicidade e sinceridade.
- Não costuma haver posicionamento do poeta, pois é preferencialmente uma descrição do presente evitando comparações ou conceitos do tipo "isso é belo (ou feio), etc", evitando o aparecimento das fraquezas do ser humano perante a natureza.
Mais que inspiração, é preciso meditação, esforço e principalmente percepção para a composição de um verdadeiro Haikai.
Solidão no ninho
O pássaro se assusta
no eco do trovão. O sol poente
despede-se lentamente
do ipê no campo. Toque colorido
na ponta do capim
pousa a borboleta! Devagar devagar,
a folha sem escolha,
vaga pelo ar. Rio seco
Silêncio sob a ponte
apenas o vento. Barco de papel
naufraga na torrente
chuva de verão. Folhas soltas
só uma contra o vento?
Borboleta amarela! Lua enevoada
o cão e sua solidão
caminham na estrada. Asa quebrada
da triste gaivota
sonho de voar !