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ORIGENS

                 No dia 4 de agosto, próximo passado, minha mãe completou 100 anos. Na verdade não sei dizer se o fato deva ser comemorado ou lamentado. Ela que sempre foi uma pessoa ativa, vive, atualmente, ausente do  mundo: não escuta, pouco enxerga e mal anda. Seus dias se resumem em ficar recostada no sofá da sala cochilando.
                Minha mãe é portuguesa nascida num lugarejo próximo de Lisboa com o nome de "Barregão", situado na região de "Trás os Montes". Contava, ela, que meu avô, seu pai, perdeu tudo o que tinha porque ao invês de cuidar das terras, gostava mesmo era de andar á caça com os fidalgos.
               Seus pais - Hermínia e Ignácio André tiveram sete filhos: Josefa, Joaquim, José, Marianna (minha mãe), Francisco, Maria e Manoel. Com relação a este último há um fato engraçado envolvendo seu nascimento. Meus avós haviam ido á feira na Espanha (essas grandes feiras onde compra-se e vende-se de tudo) e, na volta, trouxeram um bebê dizendo tê-lo comprado. Os garotos ficaram radiantes com o novo irmãozinho e acreditaram piamente na história contada. Não querendo cometer qualquer heresia, ainda assim, não posso deixar de lembrar-me de uma certa história em que um casal vai fazer um recenseamento e nasce um menino no meio da viagem. Bem sei que a comparação é despropositada, está é uma história sagrada e a outra totalmente profana.
               Dos irmãos o que mais dava problemas era o José que vivia sempre aprontando alguma: de uma feita rachou a cabeça com o machado que estava (de má vontade) a cortar lenha; de outra engoliu tantas uvas com bagaço e tudo, que tiveram que ser retiradas no pronto-socorro, já que ficou entupido; outra vez passou um tempão desaparecido porque engajara-se num navio e por lá ficou até ser descoberto e trazido à força para casa.
               Tia Maria, a menorzinha, era o gênio da família: aos quatro anos podia ler perfeitamente qualquer texto que lhe apresentasse. Por esse motivo foi alvo da curiosidade geral e mereceu, até, artigo em jornal. Uma de suas filhas, numa viagem à Portugal, tanto cascvilhou que acabou por localizar a reportagem da qual tirou cópia para toda a família.
                Um de meus  primos andou pela Europa na década de 90 e, como não podia deixar de ser, foi à Portugal em busca das origens. Custou um bocado, mas conseguiu a cidadezinha onde tudo começou e que, segundo ele, não mudou em nada, parece que ali o tempo não passou.
                Esse meu primo, o Gilberto, filho da tia Maria, fez um vídeo da viagem e deu-me uma cópia do trecho em que aparece "Barregão". Eu o exibi e minha mãe assitiu (ainda enxergava um pouco nessa época). Quando apareceu a igrejinha do lugar, filmada também em seu interior, ela, de imediato, disse: "essa  Via Sacra fui comprá-la com minha mãe em Lisboa".
                Minha mãe veio pra o Brasil com cêrca de 9 anos, onde aportou depois de uma longa viagem por mar, indo morar em Petrópolis pois meu avô, que viera antes, conseguira o lugar de administrador em uma fazendo, onde, futuramente, seria construído o Hotel Quitandinha.
                Daí pra frente pouco sei dos acontecimentos que se seguiram. Quando jovem esses assuntos não me interessavam, apenas vivia o presente, sem passado, sem futuro.
                Sei que meus pais conheceram-se em Petrópolis e lá se casaram. Mais tarde mudaram-se par o Rio e lá fixaram resid~encia. E foi no Rio de Janeiro que nasci, filha única, após 12 anos de casamento. Sei, também, que nasci no Hospital São Francisco de Assis e que morávamos em botafogo, mas desconheço o endereço que não é o mesmo daquela da minha infância.
                Pois é isso. Historinha fajuta essa, não é? Pode até ser, mas cada um deve se conformar com o que tem e o que tenho é isso, que é mais do que alguns possuem e bem melhor que nada.

                                                       outubro - 2004


                      Na oportunidade, deixo a
              todas as amigas e mães maravilhosas,
           os meus votos de um dia cheio de felicidade.

                                 Helena

                      

                
           
                

                  

HLuna
Enviado por HLuna em 10/05/2009


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