ATAVISMO
Pelos séculos adiante
que se estendem à minha frente,
nada vejo diferente.
Rude carne agonizante,
tenho força fecundante
pra gerar u'a nova vida.
Mas repetindo a tragédia
(ou será, talvez, comédia?),
esse feto inconsciente
guarda gens adormecidos
que passarão a seus filhos,
repetindo os desvarios
num atavismo latente.
A criatura corrupta
prossegue grosseira e estúpida,
como a besta entre os antolhos,
sem ver nada à sua volta.
Somente a luz da revolta
se reflete nos seus olhos,
e o tolo orgulho humano
a mantém, como um tirano,
submissa ao seu tacão.
Esse sonho de progresso
é bem mais um retrocesso
na busca da evolução:
pretende alçar voos altos,
porém, não se afasta do chão.